sexta-feira, outubro 07, 2011

Balada do Cãotribuintes

" Somos nós os desventurados
Os pobres contribuintes
Obrigados a sofrer até ao fim dos tempos
A sorte a que impera
A que imperturbaveis
Nos condenam os nossos go...
Todos os nossos governos.
Se meteres cem francos de gasolina
Oitenta vao para o Estado
Olha cheio de concupisciência
Os Cadilac.....Não é para ti
No teu dois cavalos de brincar
Saltita ao longo dos caminhos
é uma sorte poderes circular
Amanhã vão-to proibir
Taxa sobre o álcool e a cerveja
sobre os definitivos e provisórios
Sobre o triste celibatário
Castigado por ser só um
Controlam-te todos os passos
Ah compraste um belo naco
Tudo corre às mil maravilhas
Paga guloso paga pró saco
Numa bandeja o Estado dá-te
Um prato....apanhas um desgosto
Esta vazio E tu admiras-te
Mas é o prato do imposto
Tu passeias pela vida
de peito feito cheio
Cuidado com o imposto sobre a energia
É para ontem ... ou mesmo antes
Um belo dia sobre o oxigénio
Ligar-te-ão o contador
Tarifa simples o ar do Sena
Tarifa dupla o ar da serra
Eis porém que tu te fartas
Preferes andar aos caídos
Ou tornar-te engolidor de facas
Taxa de engolidor acrescentada
Um remédio o casamento
Dizes de súbito e corres
Á procura de uma rapariga séria
Que saiba de amor e de comes
Apressas-te e calculas
Que ao fim de doze filhos o abono
Do teu rendimento minúsculo
Compensará a escassez
Mas um inspetor das finanças
Põe-se a badalar a ideia
E para ... sem dor por minha fé
Um texto cheio de veia
Então a Câmara classifica-te
Como garanhão de cobrimento
Medem-te e tens a mais
Pagas taxa sobre o comprimento
Se pagasses para alguma coisa
Sempre tinhas uma justificação
Mas infeliz daquele que ousa
Perguntar pr'onde vai o cifrão
Temos estradas miseráveis
Não há escolas mas padres
Acabou o bom vinho há carrascão
Mas fornecem-nos o puré
O governo da França
Republicano - ou que assim diz que é -
Só um prato oferece com abastança
O frango ... pilim para o arroz
E para evitar a falência
Dos pobres vendedores de canhões
Faz-se uma guerra do pé para a mão
À guerra não se diz que não ...
Mas nós os pobres cães os pobres contribuintes
Virá um dia em que de pau em punho
Nos consolaremos a limpar o redil
Onde os nossos seiscentos porcos estarão maduros para o enchido"
Boris Vian - " Con-plainte des con-tribuables"